HPI: O indicador do planeta feliz

Em 2009, a NEF, New Economics Foundation, uma instituição britânica, lançou seu segundo relatório sobre o que podemos chamar de "felicidade sustentável": o Happy Planet Index 2.0. Este 'Indicador do Planeta Feliz', como qualquer IDH, analisa o estilo e as condições de vida de um país e quantifica, a partir disso, o bem-estar gerado por eles. Mas não se iludam, aguçados leitores: o HPI não é um mero IDH sorridente. Pois o bem-estar que ele quantifica se refere a dois distintos pontos de vista - o das pessoas, e o do planeta.


Antes de mais nada, pra ninguém ir pensando que a gente perdeu a cabeça e esqueceu do propósito do blog, eu digo: esse é sobretudo um post preparatório para pensar os próximos posts, que eu já adianto, são bem promissores!

Aguardem e verão!




SOBRE O HPI

Então. O HPI se baseia em 3 variáveis para calcular seu resultado final: expectativa de vida, pegada ecológica e satisfação com a vida. Essas variáveis podem ser consultadas nos mapas interativos no site do HPI. Os dados do relatório se referem ao ano de 2005.


Pegada Ecológica

A Pegada Ecológica é um conceito elaborado por William Rees, e se refere à área necessária, em ha, para sustentar as necessidades de consumo (de alimentos, energia, espaço, produtos industrializados, etc., incluindo também áreas de preservação natural) de um ser humano, levando em conta seu estilo de vida e aquele de seu país. Para que todas as pessoas possam viver sustentavelmente dentro das possibilidades da Terra, sem comprometer os recursos para as próximas gerações, o limite da pegada ecológica é de 2.1 ha per capita - um valor questionável, pois só leva em conta o espaço para a espécie humana, desconsiderando as demais espécies. Quanto maior o impacto ambiental do estilo de vida e de produção de um país, maior será sua pegada ecológica.



Mapa da pegada ecológica por país



Tomando por base os resultados do relatório da WWF de 2008, o relatório HPI apresenta este mapa, classificando quantos planetas seriam necessários para sustentar as 'necessidades' do estilo de vida de um país, caso o mundo todo adotasse esse mesmo estilo. Podemos perceber que, de modo geral, os países chamados desenvolvidos são os que apresentam uma pegada ecológica mais grave, ocasionada principalmente pelo impacto das indústrias, pelo consumo excessivo e pelo desgaste ambiental que isso causa.



Satisfação com a Vida

A felicidade das pessoas, diz o relatório, não se mede apenas através dos sorrisos em seus rostos: é algo muito mais subjetivo. Então, como quantificar a felicidade? O HPI utiliza, para seu cálculo, as respostas obtidas no Questionário Gallup. Gallup é uma fundação, sediada nos EUA e com agências pelo mundo todo, que faz pesquisas sobre aspectos econômicos, sociais e de bem-estar pelo mundo todo. Esse questionário específico contém perguntas sobre as condições do país sob diversos aspectos - democráticos, governamentais, econômicos, sociais, etc.

A NEF se utiliza da pergunta final do Questionário Gallup para quantificar o grau de satisfação das pessoas:

Levando tudo em consideração, o quão satisfeito você está com a sua vida como um todo atualmente?

Os questionados têm, então, que responder com uma nota de 0 a 10, respectivamente, totalmente insatisfeito e totalmente satisfeito. Os resultados obtidos para as médias nacionais foram os seguintes:




Mapa da satisfação com a vida por país (escala 0 a 10)


Podemos perceber que há uma forte associação da satisfação com o bem-estar (ou mal..) econômico das nações: altos níveis de satisfação são encontrados nos países 'desenvolvidos', ao passo que países pobres (a África subsaariana, num geral) e que sofrem com conflitos apresentam um péssimo desempenho. Isso, contudo, não é uma determinante. Vários países onde há muita pobreza e desigualdade, que possuem condições de vida tidas como 'mais precárias', e onde, talvez, se esperaria índices mais baixos, como a maioria dos países da América Latina e a Arábia Saudita, apresentam um grau de satisfação superior a 7.0. Ao mesmo tempo, países do 'mundo desenvolvido', como Portugal, Itália, e diversos países da Europa central, apresentam índices medianos, provando novamente que, apesar de a riqueza material ter sim uma forte influência no bem-estar das pessoas, não é só ela que é capaz de prover uma vida "feliz e significativa".






Expectativa de vida por país




Anos de Vida Feliz

A satisfação com a vida, analisada juntamente com a expectativa de vida de um país, dá origem ao indicador que os teóricos da New Economics Foundation chamam de 'anos de vida feliz'. É, como dizem, a expectativa de vida feliz, de ter não apenas uma vida longa, mas de passar esses anos com alegria, satisfação e significado.


O resultado final do HPI obtém-se, então, basicamente, dividindo esses anos de vida feliz pela pegada ecológica do país. A fórmula, contudo, tem variáveis que não permitem que uma variável predomine sobre as outras: ter muitos e muitos anos felizes mas uma grande pegada ecológica não terá um resultado igual a ter ambos os índices baixos. O cálculo leva em conta a quantidade de aspectos positivos, médios e negativos que se tem: as melhores notas, então, só serão obtidas pelos países que tiverem ao mesmo tempo alta expectativa de vida, alta satisfação com a vida e uma pequena pegada ecológica.




Quadro com a distribuição dos resultados, indicados por região, no quadro estatístico de cores (pegada ecológica x anos de vida feliz)


Podemos observar, no quadro de distribuição por cores (onde está considerada toda aquela estatística) que os países com os melhores resultados não foram aqueles do 'mundo desenvolvido': apesar dos ótimos índices de satisfação e de expectativa de vida, o peso que esse estilo de vida tem para o planeta é insustentável, tornando seu resultado, assim, bastante baixo. Da mesma forma, os países da África Subsaariana, apesar do seu baixo impacto para o planeta, não obtiveram bons resultados, pois as pessoas não estão felizes ali, com os conflitos, com as condições, e, sobretudo, com a baixa expectativa de vida que possuem.


As pessoas fazem parte do planeta, mas também são habitantes desse planeta, fazem uso dele. O indicador do planeta feliz, então, só estará feliz se todos os envolvidos também estiverem: as pessoas, satisfeitas com suas vidas, e o planeta, não sobrecarregado por suas vidas.



ONDE ESTÁ A FELICIDADE?


Mapa do HPI por países


Toda essa pesquisa, todos esses dados, culminaram no relatório chamado O Indicador do Planeta (In)Feliz 2.0: Por que boas vidas não precisam custar à Terra (disponível em inglês, em pdf). Por que isso? Porque, bom, é isso que se conclui: nós não vivemos em um planeta essencialmente feliz. A média de satisfação global é de apenas 6.1, a média da pegada ecológica ultrapassa levemente aquela necessária para contentar o saciamento das 'necessidades' com os recursos de um só planeta, e o mapa final do HPI apresenta tonalidades mais próximas ao vermelho do que ao verde. Então, onde está a felicidade? Vamos nos atirar da ponte?

Não, ainda não. Ninguém é perfeito, ok, nenhum país conseguiu atingir os 3 indicadores verdes. O famigerado (adoro essa palavra! :) ) estilo de vida ocidental é bom, deixa as pessoas felizes, mas não se sustenta em um pobre planetinha só, e só se mantém por causa da desigualdade com outras regiões. Mas isso não é o fim do mundo, não é impossível ser feliz só por não ter o estilo de vida de um parisiense! E não reclamem dos croissants: não é preciso ser assim, não é preciso judiar do planeta para ter bons croissants! Olhem a Argentina. Eles tem croissants que arrasam, e seu HPI é bem mais saudável...


Abram o olhar, agora: a América Latina como um todo, se repararmos, apresenta os melhores indicadores! O sudeste asiático também! E - pasmem - eles não constam na lista do glorioso-salve-salve 'mundo desenvolvido'... As pessoas são felizes, sim, e não precisam abusar do planeta para terem satisfação, para terem bem-estar, para terem saúde e croissants!



 Resultados de HPI obtidos por subregião do planeta


A Europa ocidental, no balanço dos resultados por região, aparece apenas no 6o lugar - todas as que a precedem são "países em ascensão". Ascensão a quê?, pergunto. Ascensão a um estilo de vida onde a felicidade tem um preço que não podemos pagar?

O relatório coloca, como parte significativa desses resultados positivos, os valores que se tem nessas partes do mundo: não é apenas o material que traz a satisfação, a sociabilidade e outros aspectos imateriais têm um grande peso nos valores das pessoas desses lugares, são fatores que não desmatam, não poluem, e mesmo assim enchem as vidas de significado. É tudo uma questão de estilos de vida, e estilos de vida vão além das meras coisas que as pessoas fazem ou deixam de fazer; eles dependem sobretudo daquilo que determina as práticas das pessoas: os valores, aquilo que é importante para elas. Então, em um mundo onde o estilo de vida historicamente determinado como 'o que se quer' não é o que se precisa, e mais, é o que não se pode ter, onde o equilíbrio é uma necessidade e não uma vontade, vamos parar, olhar e perguntar:

o que eu preciso?



QUERO coisas demais


PRECISO querer menos








Inspiração original: Revista Obvious

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Ben Heine: Fotografias de uma África encantada


Quem foi que falou que só os pretos-e-brancos do grande mestre Sebastião Salgado é que transmitem a força das imagens da África? O pôr-do-sol laranja, a vida dura e seca da savana, tudo isso perde lugar para uma visão alegre e otimista da natureza (e) do continente no trabalho desse fotógrafo/artista/jornalista.




Once upon a time in Kenya - Ben Heine






Ben Heine nasceu em Abidjan, Costa do Marfim, em junho de 1983. Formado em jornalismo na Bélgica, e após uma uma conturbada passagem pelo campo dos cartuns políticos, ele agora se dedica a uma série de projetos artísticos, entre ilusrações, fotos, artes gráficas e misturas disso tudo. 






Happy Together - Ben Heine

Suas composições fotográficas têm um aspecto vivo, vibrante e encantado. Com tons fantasiosos, suas imagens mostram uma África das cores, contrapondo-se ao tom cinzento com que o fotojornalismo geralmente trata a fome e a pobreza no continente. Os títulos sempre, de uma forma ou de outra, remetem a uma visão otimista, tranquila - seja pelo paralelo com os contos de fadas ('Era uma vez no Kenya') ou pela simplicidade com que os nomes ditam o caráter das fotos ('Felizes Juntos', 'O futuro é brilhante', 'Eu ouço os pássaros cantarem').

Ben Heine nos mostra uma África menos selvagem, menos triste, e mais colorida, uma terra onde não existem só as mazelas (elas existem, é claro), mas onde também é possível sonhar.


Once upon a time in Kenya - Ben Heine

Meadow of life - Ben Heine


Esse é o link do site do cara. 
Vale a pena dar uma olhadinha, e provavelmente ele vá aparecer de novo aqui pelas linhas do Pra lá de Bagdá.
Até a próxima!


I hear the birds sing - Ben Heine

The Future is Bright - Ben Heine

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